A raiva (III)
Vou lhe dizer mestre, mesmo que você já saiba,
Ele importava-me, me importa, mesmo na incerteza do seu retorno.
O amo, juro por todos os deuses que existiram, existem e existirão.
Mas sua navegação não é um descuido.
Enquanto eu permaneço perdida e peço ao céu que deixe migalhas para que ele volte para mim,
Enquanto ele recebe bússolas en cada pouso para guiá-lo ao caminho que o fará voltar aos meus braços.
Ele decide não entender,
Ele decide ir à direção oposta,
Ele decide o fim do mundo, se perder para sempre.
Como posso continuar esperando, mestre?
Eu confio na sua promessa,
É a única coisa que me mantém com vida.
Meu amor não é ele,
É sua memória, é a esperança.
Cada suspiro em seu nome me ofende, me irrita.
Não me culpe mestre, não me culpe se eu destruo tudo o que construí em nome da sua espera.
Esta raiva profunda não é por causa de sua ausência,
É o medo de que a morte chegue primeiro até ele,
Pois eu temo que, mesmo na eternidade, ele continue sua viagem,
Sem me esperar.
Às vezes eu lhe sinto tão perto, às vezes tao longe,
Às vezes fico feliz sabendo que é livre.
Às vezes eu fico raivosa por saber que é livre.
Sou emocional,
Sou paciente quando sei que vou conseguir o que eu quero.
Eu sei como enviar meu perfume ao vento para que chegue onde seja que ele estiver e nunca me esqueça.
Eu sou culpada de impregnar seus sonhos,
Eu sei como provocar suas paixões, mesmo na distância.
Mas não sei como devolvê-lo para mim.
Não me julgue mestre, minhas paixões de mulher ainda estão em brasa.
Nestas ruínas, morro todos os dias e renasço todas as noites.
Nestas ruínas eu pinto meus lábios de vermelho,
Lavo meu corpo com óleos essenciais e conjuro seu nome em um desejo ardente.
Não me julgue mestre, e afaste-se de mim, ainda não perdi completamente a razão.
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